terça-feira, 19 de outubro de 2010

História - "A teia de aranha"

Eu tive de ir ao sótão procurar uns jornais antigos.

Como toda a gente sabe, o sótão é o lugar da casa que menos é limpo. Nunca se convida as visitas para ir ao sótão. Nunca se utiliza o sótão, cheio de baús, malas e caixotes, para dar festas de aniversário. Até talvez não fosse má ideia? Eu a entrar no sótão, e a esbarrar com uma teia de aranha.

- Que falta de consideração - barafustou a aranha. - Uma teia que me deu tanto trabalho a fabricar!

- Foi sem querer. Desculpe - disse-lhe eu, um tanto encavacado.

- Quem estraga, arranja - gritou-me ela.

- Mas eu não sei tecer teias de aranha?

- Então, não tivesse rasgado. Quem estraga, arranja - insistiu ela.

Não tenho feito outra coisa. Pedi instruções a um tecelão, a uma bordadeira e a uma senhora que trabalha em malhas. Cada uma ensinou-me o que sabia e eu, mal ou bem, com uma agulha muito fininha e um fio de nylon ainda mais fino tenho passado os dias no sótão a cosipar a teia da dona aranha. Com tantas responsabilidades na minha vida, tantas histórias para contar, e sucede-me a mim uma destas. Ainda se a aranha se calasse, mas não se cala:

- Quem estraga, arranja.

E sempre a desfazer do meu trabalho:

- Que falta de jeito. Que horror.

Mais dia, menos dia, também eu me enervo e mando a aranha contar histórias, em vez de mim. Sempre queria ver como é que dava conta do recado.

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