sexta-feira, 8 de abril de 2011

História - A cor dos gatos

Fui há dias dar um passeio pelo campo e até me perdi. Eu gosto muito de perder-me, principalmente porque sei que, mais tarde os mais cedo, acabo sempre por encontrar-me. Quem se perde, sempre alcança. Ou não é assim o provérbio? Quem se perde por gosto, não se cansa. Será este? Também não me soa bem... Mas já estou a desviar-me. Fui ao campo e, no meio do mato, o que é que eu encontrei? Um gato, que rima com mato. Um gato todo verde - verde-claro, verde-alface. Um gatinho. Não acreditam? A mim, a princípio, também me custou a acreditar. Fui atrás dele e assim cheguei a uma clareira, com uma espécie de casinha de bonecas no meio. À janela estava uma velhota com um gato branco ao colo.
- Minha senhora, desculpe incomodá-la - disse eu -, mas há pouco vi um gato verde, verde-clarinho... Será possível?
- Pois claro que é - respondeu-me a velha ou, para sermos mais delicados, respondeu-me a senhora de idade.
- A mãe é esta gata branca, que aqui vê ao meu colo.
- E o pai?
- O pai é um gato verde-escuro, que por aí anda. Está-se mesmo a ver: branco com verde-escuro não pode ser encarnado...
- Pois não - concordei eu. - Mas um gato verde-escuro não lhe parece esquisito?
- O senhor deve ter a mania das complicações - disse-me a velha, isto é, a senhora de idade, já um bocado arreliada.
- A cor dele é verde-escura, porque a mãe era uma gata amarela e o pai um gato azul. Onde está a admiração?
- A admiração?! Não sei onde está - balbuciei eu. - Naturalmente também se perdeu. Sem mais achar que dizer, despedi-me da senhora de idade e, pé ante pé, virei as costas àquela casa no meio do mato. Demorei que tempos até encontrar-me. Estava um bocado azamboado. E ainda estou. Nota-se?

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