quarta-feira, 27 de abril de 2011

História - Os coelhinhos aprendem

Era uma vez uma coelha que tinha muitos filhos. Como boa mãe, passava o dia a recomendar-lhes o que era melhor para a vida deles: as ervas que deviam comer, as ervas que deviam rejeitar, as horas a que podiam sair, as horas em que não podiam nem espreitar...

- E, antes de mais - dizia ela -, muita atenção ao calendário de abertura da caça...

- Mas como é que nós sabemos, se não lemos jornais? - perguntou um dos coelhinhos.

- Assim que ouvirem tiros, nem que sejam longe, e cães a ladrar, corram logo a abrigar-se - avisou a mãe. Um dia, um dos mais novos, chegou à toca, muito assustado.

- Ouvi tiros, mãe. Esconda-me. A coelha tranquilizou-o:

- Eu também ouvi, mas não são tiros de chumbo. São foguetes de cana. Há festa na aldeia. Não ouves a música da banda? Para que te servem as orelhas? Enquanto eles andam entretidos, podemos nós sossegar. Dias depois, estava a família toda no pasto e uma melodia fininha e maliciosa veio pelo ar, como serpente que dança... Os coelhos pequenos, que nunca tal tinham ouvido, olharam para a mãe, interrogativos.

- É melhor irmos andando para casa - disse ela.

- E tão cedo não voltamos a pôr o nariz de fora. O coelhinho de há pouco estranhou:

- Mas ó mãe, uma música tão doce não será festa, também?

- Qual festa, qual carapuça. Despacha-te. É o Pedro Ovelheiro, que toca flauta, e anda por aí a semear desgraça. Arma por tudo o que é sítio armadilhas, que fazem miséria. Até me arrepio toda. Tempos depois, o coelhinho veio outra vez ter com a mãe, muito aflito.

- Vi homens com espingardas. Devem ser caçadores.

- Também eu vi - disse a mãe.

- Com estes podes estar descansado. São guardas florestais e andam a levantar as armadilhas que o Pedro armou, porque estão proibidas pela lei da caça. Já podemos descansar. Mas, mesmo assim, todo o cuidado é pouco. Está visto que é muito arriscada a vida do mato. O que um coelho tem de aprender, para não ser chumbado!

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